in halfway ...


Black Eyed Peas

por vezes ... talvez!


U2 - Sometimes You Can't Make It On Your Own (Acoustic)

come undone


Duran Duran

domingo, 6 de julho de 2008

Uma sociedade cansada!

Para pensarem quando acharem que estão cansados!

«As grandes conquistas da vida interior começam com pequenas conquistas na vida prática. Vou pelas escadas e não pelo elevador, levanto-me da mesa ainda com uma sensação de fome e não me empanturro, não ligo o ar condicionado ou o aquecimento no máximo, suporto algum calor ou algum frio.
Satisfazer o corpo no seu desejo de comodidade é impelir o espírito para a névoa da confusão. Até podemos ter grandes palavras na ponta dos lábios, mas, por detrás dessas palavras, haverá apenas o esqueleto de arame de um manequim. O corpo adora ser mimado e quantas mais coisas se lhe dá, mais coisas deseja.
A nossa sociedade foge do cansaço como do mais terrível dos espectros. Facilidade e imediatismo são as únicas vias escolhidas, e os resultados, infelizmente, são bem visíveis. A sociedade que vemos à nossa volta é uma sociedade frágil, doente, inerme, em decadência profunda. Uma sociedade que cede a todas as tentações, excepto à do cansaço. No entanto, o cansaço é a própria essência da nossa vida, da vida de todas as criaturas. Sem cansaço, não há construção. Sem construção, não há sentido. E surge o desepero, a depressão, surgem os ataques de pânico. Entre nós e as garrafas que se deixam arrastar pela corrente não há qualquer diferença.»

Susanna Tamaro in "O Fogo e o Vento"

A sociedade e o rouxinol!

Lenta e implacavelmente, o ser humano foi alterando a forma como encara o seu semelhante, a sociedade mudou muito e os interesses dos seus elementos são muito diferentes. A vida cada vez menos visa a relação com o outro, antes relaciona-se principalmente com as “coisas” materiais e com os centros de interesse de cada um.
Os factos que tenho observado nos últimos tempos, têm-me levado a parar um pouco para pensar e escrever sobre eles. São os “pequenos nadas” pelos quais passamos todos os dias e que, ou não ligamos importância, ou pelo contrário, exageramos no valor que lhes é devido. É igualmente o espírito de criança que há em nós e que, por vezes, temos problemas em o demonstrar, sobretudo porque pensamos que somos adultos “responsáveis”. São ainda a felicidade e o amor, sentimentos humanos que trazem do que melhor existe, mas também do pior que pode acontecer para o bem-estar de cada pessoa.
No que respeita a estes dois últimos, quer a felicidade, quer o amor, são normalmente sentimentos agradáveis, pois trazem-nos a alegria, tornam-nos alegres, eufóricos, empolgados, contentes, e dão-nos aquela paz interior de que precisamos para enfrentar as dificuldades do dia a dia. Já a falta desses sentimentos pode arrastar-nos para situações mais ou menos complicadas.
É claro que não estou a dizer nada de excepcional! No entanto, é bom relembrar que quando nós estamos bem, o estado de euforia em que nos encontramos leva-nos facilmente ao esquecimento, ou então nem sequer nos apercebemos de que à nossa volta existem pessoas (familiares, amigos ou colegas) que se encontram infelizes e tristes.
As amarguras dos desgostos da vida familiar, a infelicidade na vida sentimental, o desespero melancólico de pessoas apaixonadas e frustradas, conduzem a caminhos distintos consoante a personalidade de cada um. Há quem interiorize esses sentimentos e sofra sozinho, acabando num estado de solidão e de depressão. Em oposição, há quem exteriorize os dramas pessoais e, com isso, consiga espantar os seus fantasmas.
É importante não perder a lucidez nos momentos mais eufóricos: olha para o lado e tenta perceber se está tudo bem com o teu amigo ou com o teu colega, ouve-o com atenção, facilita-lhe as coisas, encoraja-o, ajuda-o da forma que te for possível.
Sendo a vida feita de altos e baixos, mais tarde ou mais cedo serás tu que poderás estar naquela posição. Então, nesses momentos mais difíceis, tenta não baixar os braços, não desistas, tenta conversar com quem te for mais próximo, deixa que te ajudem e vai à luta!
Que bom seria se estas atitudes estivessem sempre presentes nas nossas acções.
Acham que isto tudo é uma utopia? Então deixem-me ser utópico! No que me diz respeito, continuarei a tentar ouvir todos os rouxinóis que quiserem cantar para mim!

ALMA PERDIDA

Toda esta noite o rouxinol chorou,

gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,

que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, alma doente
de alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei

talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,

que eu pensei que tu eras a minh’alma
que choraste perdida em tua voz!

(Florbela Espanca)

Nota: o rouxinol (nightingale) é uma ave solitária, bastante difícil de se ver. É um excelente cantor que canta normalmente escondido. Fica quase sempre oculto pela vegetação e é normalmente ouvido depois do escurecer, sendo um dos poucos pássaros a cantar à noite, mas também se ouve com frequência durante o dia.
Julee Cruise - The Nightingale: It flew to me and told me that it found my love ...