in halfway ...


Black Eyed Peas

por vezes ... talvez!


U2 - Sometimes You Can't Make It On Your Own (Acoustic)

come undone


Duran Duran

domingo, 22 de junho de 2008

Os desígnios do amor!

Klimt "O Beijo"
Como o prometido é devido, escrevo este post sobre um assunto que, para muitos, é a razão da nossa existência e está na base daquilo que faz movimentar o mundo: o amor!
Para além desse interesse geral, este assunto teve contornos complicados para uma pessoa do meu círculo de amigos, durante a semana passada. É para ela, também, que aqui deixo estas palavras, esperando que lhe possam servir de algum conforto.

Decididamente eu não sou a pessoa mais indicada para falar e escrever sobre este tema. Assim, prefiro deixar aqui alguns excertos de escritos de quem sobre ele escreveu. Trata-se de pequenos textos que abordam aspectos relacionados com o amor, e que nos permitem reflectir para além da ideia, ainda muito recorrente, do romantismo que lhe está associado.

Quando se pensa no tema “amor” vêm-nos à memória determinadas citações de poetas e escritores. Camões dizia que “Amor é fogo que arde sem se ver". Camilo afirmava que "Amor é uma luz que não deixa escurecer a vida". Fernando Namora sustentava que “O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência”.

Parando um pouco para pensar com maior profundidade e algum distanciamento, chegaremos, mais ou menos facilmente, à conclusão que todas essas frases não passam de visões românticas e idealizadas que se tem relativamente à pessoa que pensamos amar. Olhando bem para o nosso próprio caso, observando os que nos rodeiam - os casos dos nossos familiares ou os dos nossos amigos -, rapidamente nos apercebemos que a realidade sobre o amor é bem diferente da ideia romântica e idealizada que fazemos dessa pessoa. Com efeito, é uma realidade muito complexa, com contornos muito diversificados e que se entrecruzam, e muitas vezes é uma realidade dura e cruel!

A minha visão sobre o amor está muito longe de ser o que aquelas citações querem mostrar. É uma visão que não tem nada de romântico, é mais fria e mais vazia, se calhar é também mais egoísta. É, na verdade, uma visão em que quase sempre o sentimento, de uma forma ou de outra, se transforma em sofrimento!


«Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer» (José Luís Peixoto)

«Nas relações amorosas o único sentimento que não funciona é o da piedade. Quando é o caso de que se devesse manifestar, o que surge não é a piedade mas o asco ou a irritação. Eis porque em relação alguma se é tão cruel. Todos os sentimentos têm o seu contraponto. Excluída a piedade, a crueldade não o tem. Por experiência se pode saber quanto se sofre quando não se é amado. Mas isso de nada vale quando se não ama quem nos ama: é-se de pedra e implacável. Decerto, tudo se pode pedir e obter. Excepto que nos amem, porque nenhum sentir depende da nossa vontade. Mas só no amor se é intolerante e cruel. Porque mostrar amor a quem nos não ama rebaixa-nos a um nível de degradação. E a degradação só nos dá lástima e repulsa. A única possibilidade de se ser amado por quem nos não ama é parecer que se não ama. Então não se desce e assim o outro não sobe. E então, porque não sobe, ele tem menos apreço por si, ou seja, mais apreço pelo amante. O jogo do amor é um jogo de forças. Quanto mais se ama mais fraco se é. E em todas as situações a compaixão tem um limite. Abaixo de um certo grau a compaixão acaba e a repugnância começa. Assim, quanto mais se ama mais se baixa na escala para quem ao amor não corresponde.» (Vergílio Ferreira – “Conta-Corrente 3”)

«Quando vivemos constantemente no abstracto – seja o abstracto do pensamento, seja o da sensação pensada -, não tarda que, contra nosso mesmo sentimento ou vontade, se nos tornem fantasmas aquelas coisas da vida real que, em acordo com nós mesmos, mais deveríamos sentir.
(…)
Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é a nós mesmos – que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é abjecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio acto em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois «amo-te» ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma.
(…)
O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.»
Fernando Pessoa (“O Livro do Desassossego”)

Apesar de não fazer o meu género musical, penso que esta música, cantada por estas mocinhas, acaba por dizer o essencial: viver sempre com a eterna espera e com a procura constante “for the one”!
SPICE GIRLS – “Viva forever”: I’ll be waiting everlasting, like the sun … live forever, for the moment, ever searching for the one.


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os felizes da vida!

M.C. Escher - Relativity
Acabei a semana passada a pensar nas coisas da vida, nomeadamente sobre as mais pequenas, as que nos preenchem os dias. Hoje vou continuar nesta onda de reflexão sobre a vida, tão poucas são as vezes em que o fazemos dado o grande número de coisas grandes que temos de concretizar todos os dias.
Revisitando Fernando Pessoa e lendo alguns dos muitos trechos que dedicou às reflexões sobre a alma humana, sobre a vida e sobre o amor, facilmente encontraremos algum em que reconhecemos algumas das nossas experiências de vida ou com o qual nos identificamos.
Decidi-me por partilhar o meu gosto particular por um desses trechos, que nos dá que pensar e questionar: o que pretendemos da vida? O que fazemos com ela? Para quem vivemos? Somos realmente felizes? O que é, e quem é mesmo importante para nós? Mais uma vez vamos acabamos por ir ter ao ponto de partida da semana passada, isto é, à encruzilhada dos pequenos nadas com que construímos a nossa vida.

«Quanto mais avançamos na vida, mais nos convencemos de duas verdades que todavia se contradizem. A primeira é de que, perante a realidade da vida, soam pálidas todas as ficções da literatura e da arte. Dão, é certo, um prazer mais nobre que os da vida; porém são como os sonhos, em que sentimos sentimentos que na vida se não sentem, e se conjugam formas que na vida se não encontram; são contudo sonhos, de que se acorda, que não constituem memórias nem saudades, com que vivamos depois uma segunda vida.

A segunda é de que, sendo desejo de toda a alma nobre o percorrer a vida por inteiro, ter experiência de todas as coisas, de todos os lugares e de todos os sentimentos vividos, e sendo isto impossível, a vida só subjectivamente pode ser vivida por inteiro, só negada pode ser vivida na sua substância total.

Estas duas verdades são irredutíveis uma à outra. O sábio abster-se-á de as querer conjugar, e abster-se-á também de repudiar uma ou outra. Terá contudo que seguir saudoso da que não segue; ou repudiar ambas, erguendo-se acima de si mesmo em um nirvana próprio.

Feliz quem não exige da vida mais do que ela espontaneamente lhe dá, guiando-se pelo instinto dos gatos, que buscam o sol quando há sol e, quando não há sol o calor, onde quer que esteja. Feliz quem abdica da sua personalidade pela imaginação, e se deleita na contemplação das vidas alheias, vivendo, não todas as impressões, mas o espectáculo externo de todas as impressões alheias. Feliz, por fim, esse que abdica de tudo, e a quem, porque abdicou de tudo, nada pode ser tirado nem diminuído.

O campónio, o leitor de novelas, o puro asceta – estes três são os felizes da vida, porque são estes três que abdicam da personalidade – um porque vive do instinto, que é impessoal, outro porque vive da imaginação, que é esquecimento, o terceiro porque não vive, e, não tendo morrido, dorme.

Nada me satisfaz, nada me consola, tudo – quer haja sido, quer não - me sacia. Não quero ter a alma e não quero abdicar dela. Desejo o que não desejo e abdico do que não tenho. Não posso ser nada nem tudo: sou a ponte de passagem entre o que não tenho e o que não quero.»


Fernando Pessoa (“O Livro do Desassossego”)

Então, dá que pensar não é? Identificaram-se com algum destes sentimentos? Sentiram que estão a ser correctos? Ou pelo contrário, que estão a ser errados?

Voltarei em breve a incomodar-vos com os vossos pensamentos … sobre o amor, afinal de contas um pequeno nada que faz mover o mundo!

ONE REPUBLIC – «Stop and Stare»: "Time to make one last appeal... for the life I lead"

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Pequenos nadas!

Os sábios dizem que tudo é justo quer na guerra quer na paixão e que não há correcto ou errado nos desígnios dos vários tipos de amor!
Esta frase enigmática deixou-me hoje a pensar!
De facto existem muitos sentimentos e pensamentos que nos assolam durante o dia. Serão correctos ou serão errados? A resposta para alguns deles, por vezes, não é fácil. Os calafrios que se sentem na espinha, o calor da respiração, as melodias que nos apedrejam o coração, os sonhos quebrados que nos assombram o sono a meio da noite, os sorrisos que se escondem, o nervoso miudinho, os desejos que nos invadem, os segredos que temos de manter … é correcto ou errado senti-los?
São, afinal de contas, pequenos nadas. É com estes pequenos nadas que se constroem os dias e se dá força à vida e ao amor que temos para dar, seja ele qual for!

Ficaram confusos? É natural!
Mas podem reflectir um pouco mais sobre os vossos pequenos nadas do dia a dia, e pensar se vale a pena as confusões que por vezes se criam por tão pouco.


THE MISSION UK - "Butterfly on a wheel": Love will rise again to heal your wings

domingo, 1 de junho de 2008

Criança!

Cada um, à sua maneira, guarda dentro de si um pouco do espírito de uma criança.

À medida que vamos crescendo, amadurecendo e envelhecendo, manter viva a criança que está dentro de nós acaba por manter acesa a chama que nos faz andar para a frente, faz com que não nos contentemos com o que vamos conseguindo obter, faz com que o atingir de uma etapa nos leve a pensar em concretizar a seguinte.

Para quem faz do trabalho com crianças e adolescentes, a sua forma de vida, o dia da criança assume uma característica especial. Não obstante as grandes dificuldades que cada vez mais se enfrentam neste trabalho, a realidade é que, para muitas dessas crianças, continuamos a ser um referencial de valores que não encontram nas suas famílias ou no meio onde vivem. É para essas pequenas vitórias, que vamos conseguindo todos os dias, que devemos olhar com mais carinho e orgulho, sabendo que de alguma forma estamos a ser, directa ou indirectamente, responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento de crianças esperando que mantenham sempre esse espírito saudável ao longo das suas vidas.

Em homenagem a todos os meninos e meninas que de alguma forma também ajudei a crescer, lembrei-me de um poema de uma colega apaixonada pela sua profissão. Obrigado, Maria José, pela força e motivação!

AQUELE MENINO ...

Para mim
É sempre aquele menino
De olhos grandes
Atentos
E profundos,
Que tive
Anos a fio
À minha frente.
Empenhado
Naquilo que fazia,
Responsável
Quando prometia.
De vez em quando,
Serenamente,
Sorria.
Era afável ou gozão,
Quando entendia
Ser ocasião.
Parecia ...
Que ia conquistar a vida.
Não a conquistou,
Não foi conquistado!
E foi-se ...
Foi-se de partida ...
Sonhou
Um mundo novo
Noutro lado!

(Maria José Norte)

Kate Bush - The man with a child in his eyes