in halfway ...


Black Eyed Peas

por vezes ... talvez!


U2 - Sometimes You Can't Make It On Your Own (Acoustic)

come undone


Duran Duran

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Tempo para viver!

Marc Chagall (La Vie)

«A vida já é curta, mas nós tornamo-la ainda mais curta, desperdiçando tempo» (Victor Hugo)

O tempo ... esse eterno inimigo da vida!
Levamos a vida a correr pois temos muitos interesses na nossa vida. São demasiados compromissos todos os dias, quase nunca temos tempo, uma vez que temos sempre muito trabalho, muitas tarefas, muitos afazeres, muitas reuniões.
Depois de todos esses deveres estarem cumpridos continuamos, ainda assim, sem tempo. Há as compras para fazer, as refeições para pensar, a casa para arrumar ou a preparação do que há para fazer no dia seguinte. No dia-a-dia tudo vai andando num frenesi. Não há lugar para a leitura nem para a reflexão, facilmente esquecemos os amigos ou de brincar com os filhos, nunca há tempo para conversar, conviver, partilhar e amar.
Não há tempo para viver a vida! Em sua substituição, vive-se de ilusões: é a busca da riqueza, é a ambição por uma carreira, é a fobia pelo consumismo e pelo materialismo, é a procura do socialmente correcto. Nunca paramos para nos vermos ao espelho e pensarmos se é este o caminho que queremos, se é este o verdadeiro sentido que queremos dar às nossas vidas.
Entrámos uma vez mais na época de todas as ilusões. Com elas vem a euforia das compras e dos presentes, as enchentes nos centros comerciais, as filas de trânsito, os intermináveis almoços e jantares, e a reunião com familiares que já não se vêem desde o Natal passado.
No meio de toda esta confusão, talvez fosse também importante aproveitar um pouco desta quadra para pensar sobre as razões pelas quais se comemora o Natal, digo eu!

“Enchemos o tempo para não nos olharmos no espelho. De repente, quando, por um minuto ou dois, paramos, não gostamos da imagem que essa paragem nos devolve - a imagem do que não soubemos ser, da vida que perdemos no meio das mil coisas que fizemos. Não há cirurgia estética que nos arranque de cima as pregas do tempo que gastámos em vez de vivermos.” (Inês Pedrosa)

Tudo na vida está em esquecer o dia que passa.
Não importa que hoje seja qualquer coisa triste,
um cedro, areias, raízes,
ou asa de anjo
caída num paul.
O navio que passou além da barra
já não lembra a barra.
Tu o olhas nas estranhas águas que ele há-de sulcar
e nas estranhas gentes que o esperam em estranhos portos.
Hoje corre-te um rio dos olhos
e dos olhos arrancas limos e morcegos.
Ah, mas a tua vitória está em saber que não é hoje o fim
e que há certezas, firmes e belas,
que nem os olhos vesgos podem negar.
Hoje é o dia de amanhã.

Fernando Namora (Mar de Sargaços)

U2 “One” - Is it getting better, or do you feel the same? ...

sábado, 29 de novembro de 2008

As aparências!

Van Gogh
Quando não se gosta da cara de alguém, é frequente utilizarem-se estas (e outras) expressões: Está com má disposição!; Vem mal-humorada!; Está zangada!; Está com cara de poucos amigos!; ou Acordou com os pés de fora!
Será que podemos julgar uma pessoa apenas pela sua expressão facial? Não será mais importante tentar conhecê-la melhor, de lhe mostrar a nossa amizade e lealdade, de a tratar com carinho e ternura, ou de lhe mostrar que nos preocupamos de facto com ela?
Com certeza que em algum momento da tua vida já te sentiste triste porque ...
... és ignorado;
... és esquecido;
... tens pessoas que não se interessam de facto por ti;
... nunca tens um amigo que te ligue só para te dizer “olá”;
... os teus amigos estão demasiado ocupados para te ouvir quando mais precisas de falar;
... alguém se ri dos teus mais íntimos pensamentos que lhe confiaste;
... as coisas não correm bem;
... vês partir alguém que te diz muito;
... perdes uma pessoa de quem gostas muito, para outra que não se interessa;
(...)
... a única pessoa que parece preocupar-se contigo, és tu!

Com efeito, as aparências costumam iludir o nosso pensamento!

«Reconhecermo-nos em alguém... desabafa-nos. Isto é, alivia a angústia de estarmos abafados nas dúvidas com que se constrói a nossa solidão. E de cada vez que alguém se reconhece em nós... transforma-nos. Olha para além de nós; olha por nós. Sem que, com isso, sobreponha o seu olhar ao nosso.» (Eduardo Sá)

Texas «I'll See It Through»

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Viver em liberdade e ser livre!

A liberdade pode ser entendida de várias formas. No essencial, entendo-a como o poder que temos de agir por nós próprios e sem coacções. De acordo com as forças, externas ou internas, que nos impelem, ou impedem de actuar, poderemos considerar duas liberdades: a que deriva de factores externos e a que resulta de nós próprios.
A liberdade de execução é a liberdade de fazer, consiste no poder de agir, ou não, sem ser coagido, ou impedido, por forças exteriores. Neste caso temos o poder de dispor fisicamente do nosso corpo; o poder de agir dentro da lei; o poder de participar nas questões da política do país, através do voto; o poder de exprimir publicamente as ideias; ou ainda o poder de escolher esta ou aquela religião.
A liberdade de decisão é uma liberdade interior, é a liberdade do querer, depende fundamentalmente das nossas obsessões, paixões, instintos ou medos. É basicamente o poder que temos em orientar o nosso comportamento para fins que inteligentemente escolhemos. Assim, somos livres de ser diferentes, ou indiferentes, ou de agir independentemente de motivos. Do mesmo modo temos uma liberdade moral que não é mais do que o resultado do poder que temos em reflectir e escolher caminhos.
Só seremos realmente livres quando, para além de querermos algo, sabermos também o que queremos e por que queremos, só assim poderemos escolher, de entre o que nos propõem, aquilo que se nos afigure mais valioso.

A liberdade está associada à responsabilidade. Ser responsável implica escolher e decidir racionalmente, conhecendo as razões para agir e as formas de actuação, prevendo sempre as consequências, bem como assumi-las como o resultado dessa actuação. De facto, não existirá maior constrangimento à nossa liberdade de intervenção, do que a ignorância dos fins, dos meios e das consequências possíveis dos nossos actos.
A verdadeira liberdade, pode então dizer-se, é o resultado da inteligência, da vontade, do esforço e da perseverança!

sábado, 15 de novembro de 2008

Sonhar ou realizar os sonhos?

«… O rapaz não sabia o que era a Lenda Pessoal.
É aquilo que sempre se desejou fazer. Todas as pessoas, no começo da juventude, sabem qual é a sua Lenda Pessoal. Nessa altura da vida, tudo é claro, tudo é possível, e elas não têm medo de sonhar e desejar tudo aquilo que gostariam de ver realizar-se nas suas vidas. Entretanto, à medida que o tempo vai passando, uma misteriosa força começa a tentar provar que é impossível realizar a Lenda Pessoal.
(…)
São as forças que parecem ruins, mas na verdade estão a ensinar-nos como realizar a nossa Lenda Pessoal. Estão a preparar o nosso espírito e a nossa vontade, porque existe uma grande verdade neste planeta: seja quem for ou o que faça, quando se quer com vontade alguma coisa, é porque esse desejo nasceu na alma do Universo. É a sua missão na Terra.
(…)
A alma do Mundo é alimentada pela felicidade das pessoas. Ou pela infelicidade, inveja, ciúme. Cumprir a sua Lenda Pessoal é a única obrigação dos homens. Tudo é uma coisa só. E quando alguém quer alguma coisa, todo o Universo conspira para que se realize esse seu desejo.
(…)
És diferente de mim, porque desejas realizar os teus sonhos. Eu quero apenas sonhar … tenho medo que seja uma grande decepção, então prefiro apenas sonhar ... Nem todos podem ver os sonhos da mesma maneira.»

Paulo Coelho (“O Alquimista”)


Madonna - Miles Away: "I just woke up from a fuzzy dream ..."

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

Sonhar!

Nadir Afonso

Sonhar …
"O homem nunca pode parar de sonhar. O sonho é o alimento da alma, como a comida é o alimento do corpo."
"É justamente a possibilidade de realizar um sonho que torna a vida interessante"
"Os sonhos têm um preço. Há sonhos caros e baratos, mas todos têm um preço."
"As tarefas diárias jamais impediram alguém de seguir os seus sonhos."
"Só uma coisa torna um sonho impossível: o medo de fracassar."
"O primeiro sintoma de que estamos a matar os nossos sonhos é a falta de tempo. As pessoas mais ocupadas têm tempo para tudo. As que nada fazem estão sempre cansadas."
"O segundo sintoma da morte dos nossos sonhos são as nossas certezas. Porque não queremos olhar a vida como uma grande aventura a ser vivida, passamos a julgar-nos sábios no pouco que pedimos da existência. E não percebemos a imensa Alegria que está no coração de quem está lutando."
"O terceiro sintoma da morte dos nossos sonhos é a Paz. A vida passa a ser uma tarde de domingo, sem pedir-nos grandes coisas e sem exigir mais do que queremos dar."
"Quando renunciamos aos nossos sonhos e encontramos a paz, temos um pequeno período de tranquilidade. Mas os sonhos mortos começam a apodrecer dentro de nós e a infestar todo o ambiente em que vivemos. O que queríamos evitar no combate, a decepção e a derrota, passa a ser o único legado da nossa cobardia."
(Paulo Coelho)

Sonhar … sonhar é então fazer dos dias alegria e liberdade, procurar a perfeição, descobrir vivências de amizade e de amor, vivências de verdade, que se perpetuem no tempo e não se apaguem. Este é um sonho meu, mas é também um sonho teu, é um sonho nosso, é também o querer de muita gente, que como eu e como tu, do mesmo modo sente e que procura viver a vida de modo diferente, dando-lhe sentido, tornando-a interessante! Não será esta a razão da nossa existência?

Hoobastank - "The Reason": I'm not a perfect person, there's many things I wish I didn't do, but I continue learning …


segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Incertezas!

Magritte

No seguimento das utopias ocorrem sempre as incertezas.
A incerteza invade-nos quando nos deparamos com a falta de conhecimentos decorrentes de uma dada acção, de um determinado assunto, ou sobre o que poderá acontecer no futuro. A coragem que temos para correr atrás dos nossos sonhos e das nossas utopias dignifica-nos, e quanto mais difíceis são os obstáculos, mais eles nos tornam fortes, desde que os ousemos ultrapassar. Nesse caminho, o amor que temos pelo que fazemos, é o nosso maior aliado. É a arma mais poderosa que nos acompanha, é a que nos fortalece e a que nos enche de esperança. No entanto, é também a que facilmente nos consegue enfraquecer e nos atira para a linha entre a racionalidade e a loucura. É uma linha ténue e facilmente transponível. Poderemos ser racionais, mas um pouco de loucura pode dar-nos a condição sublime para que, mais do que sobreviver, se possa viver, sentir, tocar, respirar, ouvir, … amar.
No caminho para a utopia, sopramos segredos em palavras vãs que vão escorrendo no tempo. A claridade da luz nem sempre nos permite ver para além do necessário. Incrédulos ficaríamos se, um dia, por breves instantes, tudo ficasse claro, deleitando um rio límpido e translúcido por onde as rochas desmaiadas assombrariam um passado. Se tal acontecesse, nos campos, os (de)lírios ficariam desejando que o vento os levasse, não por desproveito ou insanidade, mas por ensejo do que para nós é único, tornando a realidade numa eloquente verdade.
Não vale a pena chorar num futuro irrequieto relembrando um passado proveitoso e secreto. Talvez se torne aberto ou talvez se perca no tempo, mas a certeza é que um dia, o dia foi dia de ter a alegria de passar pelo incerto.
Tantos obstáculos encontramos que, contudo, não conseguem ofuscar a serenidade e a paz que se alcança quando, a par da lucidez se junta a insensatez.

Este é um post dedicado aos meus amigos que buscam as suas utopias. Que a claridade da luz incida sempre sobre vós!

Madonna - heartbeat
«... this complicated life, I try to do my best, I always tell myself it's all just a test... which makes me feel like the only one, the only one that light shines on...»

sábado, 11 de outubro de 2008

Utopia


De impossíveis a … utopias:

“Ela está no horizonte.
Avanço dois passos e ela afasta-se dois passos.
Avanço dez passos e o horizonte distancia-se de mim dez passos;
Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei.
Para que serve então a utopia?
Para isso mesmo: para que eu não deixe de caminhar.”
(Eduardo Galeano)


Alanis Morissette - "Utopia"


we'd gather around all in a room fasten our belts engage in dialogue we'd all slow down rest without guilt not lie without fear disagree sans judgement we would stand and respond and expand and include and allow and forgive and enjoy and evolve and discern and inquire and accept and admit and divulge and open and reach out and speak up this is utopia this is my utopia this is my ideal my end in sight utopia this is my utopia this is my nirvana my ultimate we'd open our arms we'd all jump in we'd all coast down into safety nets we would share and listen and support and welcome be propelled by passion not invest in outcomes we would breathe and be charmed and amused by difference be gentle and make room for every emotion this is utopia this is my utopia this is my ideal my end in sight utopia this is my utopia this is my nirvana my ultimate we'd provide forums we'd all speak out we'd all be heard we'd all feel seen we'd rise post-obstacle more defined more grateful we would heal be humbled and be unstoppable we'd hold close and let go and know when to do which we'd release and disarm and stand up and feel safe this is utopia this is my utopia this is my ideal my end in sight utopia this is my utopia this is my nirvana my ultimate.

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Impossível!


Acabou finalmente o Verão!

Mais uma vez foi o “impossível” que me ganhou!

Estamos no Outono, e com ele poderia começar a ser “possível”!
No entanto, o que é que se verifica na realidade? Simplesmente esbarramos no “impossível”. É o “impossível” que comanda, é o “impossível” que dita as suas leis! Mas é “impossível” porquê? É assim tão difícil tornar “possível”? Sobre o que é que estou aqui a escrever? O que é então o “impossível”?

De acordo com o estudo da nossa essência, do ser, da realidade, o que em termos filosóficos se designa de metafísica, o “impossível” é tão simples como isto: é tudo o que “não é” e “não pode ser” (que me perdoe a minha amiga filósofa por esta incursão no seu terreno académico).
Perante isto resolvi fazer uma pesquisa básica sobre o assunto e fui à mais banal das fontes que nos disponibilizam nos dias que correm, a “Wikipédia”, e encontrei esta delícia. Afinal de contas, o “impossível” até é simples, senão vejamos:

«O “não ser” é um dos maiores problemas da filosofia. Todas as nossas categorias, toda nossa linguagem está voltada para o “ser”, por isso encontramos problemas quando tentamos compreender ou falar do “não ser”. O que é o “não ser”? Aparentemente não há como responder à pergunta, pois a mesma parece não ter sentido. "Não ser" é sinónimo de "o que não é", assim como ser, no sentido de ente, é sinónimo de "o que é". Assim, a pergunta pode ser entendida como "O que é o que não é?" Parece que não podemos tratar directamente do “não ser”, pois não podemos dizer que ele é coisa alguma, nem que ele é o “não ser”. Apesar desses problemas, o silêncio sobre o “não ser” não é uma boa opção, pois tratamos do “não ser” costumeiramente, e nos entendemos quando fazemos isso. Quando lemos num papel "Isto não é um lápis" recebemos uma mensagem significativa. O discurso sobre o “não ser” não é o discurso sobre o nada, sobre o que não é. Dizer "A não é B" não é dizer que "A" não é nada, mas sim dizer que "A" é uma outra coisa, um outro ser.».

Estamos no Outono, época que representa o recomeço de muita coisa, ao voltarmos para as nossas rotinas de todos os dias, depois de um Verão com mais ou menos “possíveis” concretizados, vamos tentar dar o nosso melhor para tornar também possível muitos dos “impossíveis” do resto do ano! Aliás até foi possível lerem e perceberem claramente este post! Ou será que não?
Como alguém já disse antes: “Que a Força esteja convosco”!

Shout Out LoudsImpossible
“I don't want to feel like
I don't have a future.
I don't want to feel like it's an end of a summer.
Let's not fall back to sleep like we used to.
I don't want to wake up knowing I don't have a future.” ...

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Verão!

(Kendra Smith)
Para esquecer este Verão e em particular este maravilhoso mês de Agosto que tão “generoso” foi para mim, aqui venho afogar as minhas mágoas, já que não me dá para as afogar de outra maneira. Por isso, a música que se segue é indicada para esse fim.
Deste “summer wine” podem beber à vontade pois não faz aumentar o teor de alcoolémia!
Nunca mais chega o Outono e o Inverno e, com eles, os dias frios, nublados e chuvosos!


Summer Wine: “…Take off your silver spurs and help me pass the time…”
Ville Valo feat Natalia Avelon



The Corrs and Bono

domingo, 6 de julho de 2008

Uma sociedade cansada!

Para pensarem quando acharem que estão cansados!

«As grandes conquistas da vida interior começam com pequenas conquistas na vida prática. Vou pelas escadas e não pelo elevador, levanto-me da mesa ainda com uma sensação de fome e não me empanturro, não ligo o ar condicionado ou o aquecimento no máximo, suporto algum calor ou algum frio.
Satisfazer o corpo no seu desejo de comodidade é impelir o espírito para a névoa da confusão. Até podemos ter grandes palavras na ponta dos lábios, mas, por detrás dessas palavras, haverá apenas o esqueleto de arame de um manequim. O corpo adora ser mimado e quantas mais coisas se lhe dá, mais coisas deseja.
A nossa sociedade foge do cansaço como do mais terrível dos espectros. Facilidade e imediatismo são as únicas vias escolhidas, e os resultados, infelizmente, são bem visíveis. A sociedade que vemos à nossa volta é uma sociedade frágil, doente, inerme, em decadência profunda. Uma sociedade que cede a todas as tentações, excepto à do cansaço. No entanto, o cansaço é a própria essência da nossa vida, da vida de todas as criaturas. Sem cansaço, não há construção. Sem construção, não há sentido. E surge o desepero, a depressão, surgem os ataques de pânico. Entre nós e as garrafas que se deixam arrastar pela corrente não há qualquer diferença.»

Susanna Tamaro in "O Fogo e o Vento"

A sociedade e o rouxinol!

Lenta e implacavelmente, o ser humano foi alterando a forma como encara o seu semelhante, a sociedade mudou muito e os interesses dos seus elementos são muito diferentes. A vida cada vez menos visa a relação com o outro, antes relaciona-se principalmente com as “coisas” materiais e com os centros de interesse de cada um.
Os factos que tenho observado nos últimos tempos, têm-me levado a parar um pouco para pensar e escrever sobre eles. São os “pequenos nadas” pelos quais passamos todos os dias e que, ou não ligamos importância, ou pelo contrário, exageramos no valor que lhes é devido. É igualmente o espírito de criança que há em nós e que, por vezes, temos problemas em o demonstrar, sobretudo porque pensamos que somos adultos “responsáveis”. São ainda a felicidade e o amor, sentimentos humanos que trazem do que melhor existe, mas também do pior que pode acontecer para o bem-estar de cada pessoa.
No que respeita a estes dois últimos, quer a felicidade, quer o amor, são normalmente sentimentos agradáveis, pois trazem-nos a alegria, tornam-nos alegres, eufóricos, empolgados, contentes, e dão-nos aquela paz interior de que precisamos para enfrentar as dificuldades do dia a dia. Já a falta desses sentimentos pode arrastar-nos para situações mais ou menos complicadas.
É claro que não estou a dizer nada de excepcional! No entanto, é bom relembrar que quando nós estamos bem, o estado de euforia em que nos encontramos leva-nos facilmente ao esquecimento, ou então nem sequer nos apercebemos de que à nossa volta existem pessoas (familiares, amigos ou colegas) que se encontram infelizes e tristes.
As amarguras dos desgostos da vida familiar, a infelicidade na vida sentimental, o desespero melancólico de pessoas apaixonadas e frustradas, conduzem a caminhos distintos consoante a personalidade de cada um. Há quem interiorize esses sentimentos e sofra sozinho, acabando num estado de solidão e de depressão. Em oposição, há quem exteriorize os dramas pessoais e, com isso, consiga espantar os seus fantasmas.
É importante não perder a lucidez nos momentos mais eufóricos: olha para o lado e tenta perceber se está tudo bem com o teu amigo ou com o teu colega, ouve-o com atenção, facilita-lhe as coisas, encoraja-o, ajuda-o da forma que te for possível.
Sendo a vida feita de altos e baixos, mais tarde ou mais cedo serás tu que poderás estar naquela posição. Então, nesses momentos mais difíceis, tenta não baixar os braços, não desistas, tenta conversar com quem te for mais próximo, deixa que te ajudem e vai à luta!
Que bom seria se estas atitudes estivessem sempre presentes nas nossas acções.
Acham que isto tudo é uma utopia? Então deixem-me ser utópico! No que me diz respeito, continuarei a tentar ouvir todos os rouxinóis que quiserem cantar para mim!

ALMA PERDIDA

Toda esta noite o rouxinol chorou,

gemeu, rezou, gritou perdidamente!
Alma de rouxinol, alma de gente,
tu és, talvez, alguém que se finou!

Tu és, talvez, um sonho que passou,

que se fundiu na Dor, suavemente…
Talvez sejas a alma, alma doente
de alguém que quis amar e nunca amou!

Toda a noite choraste… e eu chorei

talvez porque, ao ouvir-te, adivinhei
que ninguém é mais triste do que nós!

Contaste tanta coisa à noite calma,

que eu pensei que tu eras a minh’alma
que choraste perdida em tua voz!

(Florbela Espanca)

Nota: o rouxinol (nightingale) é uma ave solitária, bastante difícil de se ver. É um excelente cantor que canta normalmente escondido. Fica quase sempre oculto pela vegetação e é normalmente ouvido depois do escurecer, sendo um dos poucos pássaros a cantar à noite, mas também se ouve com frequência durante o dia.
Julee Cruise - The Nightingale: It flew to me and told me that it found my love ...

domingo, 22 de junho de 2008

Os desígnios do amor!

Klimt "O Beijo"
Como o prometido é devido, escrevo este post sobre um assunto que, para muitos, é a razão da nossa existência e está na base daquilo que faz movimentar o mundo: o amor!
Para além desse interesse geral, este assunto teve contornos complicados para uma pessoa do meu círculo de amigos, durante a semana passada. É para ela, também, que aqui deixo estas palavras, esperando que lhe possam servir de algum conforto.

Decididamente eu não sou a pessoa mais indicada para falar e escrever sobre este tema. Assim, prefiro deixar aqui alguns excertos de escritos de quem sobre ele escreveu. Trata-se de pequenos textos que abordam aspectos relacionados com o amor, e que nos permitem reflectir para além da ideia, ainda muito recorrente, do romantismo que lhe está associado.

Quando se pensa no tema “amor” vêm-nos à memória determinadas citações de poetas e escritores. Camões dizia que “Amor é fogo que arde sem se ver". Camilo afirmava que "Amor é uma luz que não deixa escurecer a vida". Fernando Namora sustentava que “O amor é a invenção de tudo, uma originalidade inesgotável. Fundamentalmente, uma inocência”.

Parando um pouco para pensar com maior profundidade e algum distanciamento, chegaremos, mais ou menos facilmente, à conclusão que todas essas frases não passam de visões românticas e idealizadas que se tem relativamente à pessoa que pensamos amar. Olhando bem para o nosso próprio caso, observando os que nos rodeiam - os casos dos nossos familiares ou os dos nossos amigos -, rapidamente nos apercebemos que a realidade sobre o amor é bem diferente da ideia romântica e idealizada que fazemos dessa pessoa. Com efeito, é uma realidade muito complexa, com contornos muito diversificados e que se entrecruzam, e muitas vezes é uma realidade dura e cruel!

A minha visão sobre o amor está muito longe de ser o que aquelas citações querem mostrar. É uma visão que não tem nada de romântico, é mais fria e mais vazia, se calhar é também mais egoísta. É, na verdade, uma visão em que quase sempre o sentimento, de uma forma ou de outra, se transforma em sofrimento!


«Penso que o amor é muito difícil. Existem muitos obstáculos a que possa ser o absoluto que é. A palavra amor é uma palavra muito gasta, muito usada, e muitas vezes mal usada, e eu quando falo de amor faço-o no sentido absoluto... há uma série de outros sentimentos aos quais também se chama amor e que não o são. No amor é preciso que duas pessoas sejam uma e isso não é fácil de encontrar. E, uma vez encontrado, não é fácil de fazer permanecer» (José Luís Peixoto)

«Nas relações amorosas o único sentimento que não funciona é o da piedade. Quando é o caso de que se devesse manifestar, o que surge não é a piedade mas o asco ou a irritação. Eis porque em relação alguma se é tão cruel. Todos os sentimentos têm o seu contraponto. Excluída a piedade, a crueldade não o tem. Por experiência se pode saber quanto se sofre quando não se é amado. Mas isso de nada vale quando se não ama quem nos ama: é-se de pedra e implacável. Decerto, tudo se pode pedir e obter. Excepto que nos amem, porque nenhum sentir depende da nossa vontade. Mas só no amor se é intolerante e cruel. Porque mostrar amor a quem nos não ama rebaixa-nos a um nível de degradação. E a degradação só nos dá lástima e repulsa. A única possibilidade de se ser amado por quem nos não ama é parecer que se não ama. Então não se desce e assim o outro não sobe. E então, porque não sobe, ele tem menos apreço por si, ou seja, mais apreço pelo amante. O jogo do amor é um jogo de forças. Quanto mais se ama mais fraco se é. E em todas as situações a compaixão tem um limite. Abaixo de um certo grau a compaixão acaba e a repugnância começa. Assim, quanto mais se ama mais se baixa na escala para quem ao amor não corresponde.» (Vergílio Ferreira – “Conta-Corrente 3”)

«Quando vivemos constantemente no abstracto – seja o abstracto do pensamento, seja o da sensação pensada -, não tarda que, contra nosso mesmo sentimento ou vontade, se nos tornem fantasmas aquelas coisas da vida real que, em acordo com nós mesmos, mais deveríamos sentir.
(…)
Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É a um conceito nosso – em suma, é a nós mesmos – que amamos.
Isto é verdade em toda a escala do amor. No amor sexual buscamos um prazer nosso dado por intermédio de um corpo estranho. No amor diferente do sexual, buscamos um prazer nosso dado por intermédio de uma ideia nossa. O onanista é abjecto, mas, em exacta verdade, o onanista é a perfeita expressão lógica do amoroso. É o único que não disfarça nem se engana.
As relações entre uma alma e outra, através de coisas tão incertas e divergentes como as palavras comuns e os gestos que se empreendem, são matéria de estranha complexidade. No próprio acto em que nos conhecemos, nos desconhecemos. Dizem os dois «amo-te» ou pensam-no e sentem-no por troca, e cada um quer dizer uma ideia diferente, uma vida diferente, até, porventura, uma cor ou um aroma diferente, na soma abstracta de impressões que constitui a actividade da alma.
(…)
O amor romântico é como um traje, que, como não é eterno, dura tanto quanto dura; e, em breve, sob a veste do ideal que formámos, que se esfacela, surge o corpo real da pessoa humana, em que o vestimos. O amor romântico, portanto, é um caminho de desilusão. Só o não é quando a desilusão, aceite desde o princípio, decide variar de ideal constantemente, tecer constantemente, nas oficinas da alma, novos trajes, com que constantemente se renove o aspecto da criatura, por eles vestida.»
Fernando Pessoa (“O Livro do Desassossego”)

Apesar de não fazer o meu género musical, penso que esta música, cantada por estas mocinhas, acaba por dizer o essencial: viver sempre com a eterna espera e com a procura constante “for the one”!
SPICE GIRLS – “Viva forever”: I’ll be waiting everlasting, like the sun … live forever, for the moment, ever searching for the one.


sexta-feira, 13 de junho de 2008

Os felizes da vida!

M.C. Escher - Relativity
Acabei a semana passada a pensar nas coisas da vida, nomeadamente sobre as mais pequenas, as que nos preenchem os dias. Hoje vou continuar nesta onda de reflexão sobre a vida, tão poucas são as vezes em que o fazemos dado o grande número de coisas grandes que temos de concretizar todos os dias.
Revisitando Fernando Pessoa e lendo alguns dos muitos trechos que dedicou às reflexões sobre a alma humana, sobre a vida e sobre o amor, facilmente encontraremos algum em que reconhecemos algumas das nossas experiências de vida ou com o qual nos identificamos.
Decidi-me por partilhar o meu gosto particular por um desses trechos, que nos dá que pensar e questionar: o que pretendemos da vida? O que fazemos com ela? Para quem vivemos? Somos realmente felizes? O que é, e quem é mesmo importante para nós? Mais uma vez vamos acabamos por ir ter ao ponto de partida da semana passada, isto é, à encruzilhada dos pequenos nadas com que construímos a nossa vida.

«Quanto mais avançamos na vida, mais nos convencemos de duas verdades que todavia se contradizem. A primeira é de que, perante a realidade da vida, soam pálidas todas as ficções da literatura e da arte. Dão, é certo, um prazer mais nobre que os da vida; porém são como os sonhos, em que sentimos sentimentos que na vida se não sentem, e se conjugam formas que na vida se não encontram; são contudo sonhos, de que se acorda, que não constituem memórias nem saudades, com que vivamos depois uma segunda vida.

A segunda é de que, sendo desejo de toda a alma nobre o percorrer a vida por inteiro, ter experiência de todas as coisas, de todos os lugares e de todos os sentimentos vividos, e sendo isto impossível, a vida só subjectivamente pode ser vivida por inteiro, só negada pode ser vivida na sua substância total.

Estas duas verdades são irredutíveis uma à outra. O sábio abster-se-á de as querer conjugar, e abster-se-á também de repudiar uma ou outra. Terá contudo que seguir saudoso da que não segue; ou repudiar ambas, erguendo-se acima de si mesmo em um nirvana próprio.

Feliz quem não exige da vida mais do que ela espontaneamente lhe dá, guiando-se pelo instinto dos gatos, que buscam o sol quando há sol e, quando não há sol o calor, onde quer que esteja. Feliz quem abdica da sua personalidade pela imaginação, e se deleita na contemplação das vidas alheias, vivendo, não todas as impressões, mas o espectáculo externo de todas as impressões alheias. Feliz, por fim, esse que abdica de tudo, e a quem, porque abdicou de tudo, nada pode ser tirado nem diminuído.

O campónio, o leitor de novelas, o puro asceta – estes três são os felizes da vida, porque são estes três que abdicam da personalidade – um porque vive do instinto, que é impessoal, outro porque vive da imaginação, que é esquecimento, o terceiro porque não vive, e, não tendo morrido, dorme.

Nada me satisfaz, nada me consola, tudo – quer haja sido, quer não - me sacia. Não quero ter a alma e não quero abdicar dela. Desejo o que não desejo e abdico do que não tenho. Não posso ser nada nem tudo: sou a ponte de passagem entre o que não tenho e o que não quero.»


Fernando Pessoa (“O Livro do Desassossego”)

Então, dá que pensar não é? Identificaram-se com algum destes sentimentos? Sentiram que estão a ser correctos? Ou pelo contrário, que estão a ser errados?

Voltarei em breve a incomodar-vos com os vossos pensamentos … sobre o amor, afinal de contas um pequeno nada que faz mover o mundo!

ONE REPUBLIC – «Stop and Stare»: "Time to make one last appeal... for the life I lead"

sexta-feira, 6 de junho de 2008

Pequenos nadas!

Os sábios dizem que tudo é justo quer na guerra quer na paixão e que não há correcto ou errado nos desígnios dos vários tipos de amor!
Esta frase enigmática deixou-me hoje a pensar!
De facto existem muitos sentimentos e pensamentos que nos assolam durante o dia. Serão correctos ou serão errados? A resposta para alguns deles, por vezes, não é fácil. Os calafrios que se sentem na espinha, o calor da respiração, as melodias que nos apedrejam o coração, os sonhos quebrados que nos assombram o sono a meio da noite, os sorrisos que se escondem, o nervoso miudinho, os desejos que nos invadem, os segredos que temos de manter … é correcto ou errado senti-los?
São, afinal de contas, pequenos nadas. É com estes pequenos nadas que se constroem os dias e se dá força à vida e ao amor que temos para dar, seja ele qual for!

Ficaram confusos? É natural!
Mas podem reflectir um pouco mais sobre os vossos pequenos nadas do dia a dia, e pensar se vale a pena as confusões que por vezes se criam por tão pouco.


THE MISSION UK - "Butterfly on a wheel": Love will rise again to heal your wings

domingo, 1 de junho de 2008

Criança!

Cada um, à sua maneira, guarda dentro de si um pouco do espírito de uma criança.

À medida que vamos crescendo, amadurecendo e envelhecendo, manter viva a criança que está dentro de nós acaba por manter acesa a chama que nos faz andar para a frente, faz com que não nos contentemos com o que vamos conseguindo obter, faz com que o atingir de uma etapa nos leve a pensar em concretizar a seguinte.

Para quem faz do trabalho com crianças e adolescentes, a sua forma de vida, o dia da criança assume uma característica especial. Não obstante as grandes dificuldades que cada vez mais se enfrentam neste trabalho, a realidade é que, para muitas dessas crianças, continuamos a ser um referencial de valores que não encontram nas suas famílias ou no meio onde vivem. É para essas pequenas vitórias, que vamos conseguindo todos os dias, que devemos olhar com mais carinho e orgulho, sabendo que de alguma forma estamos a ser, directa ou indirectamente, responsáveis pelo crescimento e desenvolvimento de crianças esperando que mantenham sempre esse espírito saudável ao longo das suas vidas.

Em homenagem a todos os meninos e meninas que de alguma forma também ajudei a crescer, lembrei-me de um poema de uma colega apaixonada pela sua profissão. Obrigado, Maria José, pela força e motivação!

AQUELE MENINO ...

Para mim
É sempre aquele menino
De olhos grandes
Atentos
E profundos,
Que tive
Anos a fio
À minha frente.
Empenhado
Naquilo que fazia,
Responsável
Quando prometia.
De vez em quando,
Serenamente,
Sorria.
Era afável ou gozão,
Quando entendia
Ser ocasião.
Parecia ...
Que ia conquistar a vida.
Não a conquistou,
Não foi conquistado!
E foi-se ...
Foi-se de partida ...
Sonhou
Um mundo novo
Noutro lado!

(Maria José Norte)

Kate Bush - The man with a child in his eyes

sábado, 17 de maio de 2008

Há dias assim!



Há dias em que é melhor não acordar e deixarmo-nos estar no meio dos lençóis!

O dia 16/5/08 foi um deles!

Em memória deste dia único:




"Stuck in a moment you can't get out of"

I'm not afraid of anything in this world
There's nothing you can throw at me that
I haven't already heard
I'm just trying to find a decent melody
A song that I can sing in my own company


I never thought you were a fool
But darling, look at you
You gotta stand up straight, carry your own weight
These tears are going nowhere, baby

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment and now you can't get out of it
Don't say that later will be better now you're stuck in a moment
And you can't get out of it

I will not forsake, the colors that you bring
But the nights you filled with fireworks
They left you with nothing
I am still enchanted by the light you brought to me
I listen through your ears, and through your eyes I can see

And you are such a fool
To worry like you do
I know it's tough, and you can never get enough
Of what you don't really need now ... my oh my

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment and you can't get out of it
Oh love look at you now
You've got yourself stuck in a moment and you can't get out of it

I was unconscious, half asleep
The water is warm till you discover how deep
I wasn't jumping for me it was a fall
It's a long way down to nothing at all

You've got to get yourself together
You've got stuck in a moment and you can't get out of it
Don't say that later will be better now
You're stuck in a moment and you can't get out of it

And if the night runs over
And if the day won't last
And if our way should falter
Along the stony pass

And if the night runs over
And if the day won't last
And if your way should falter
Along the stony passIt's just a moment
This time will pass

(U2)


A decent melody to sing in my own company: "Unchained Melody" for you ...

segunda-feira, 5 de maio de 2008

Mãe


Ontem foi dia da mãe!

Mais uma vez não liguei muita importância ao evento e, mais uma vez, não me lembrei do quanto esse dia significa para ti, mãe!

Ultimamente temos passado o tempo em desacordo sobre qualquer coisinha que surge, mesmo sobre aquelas coisas que não têm qualquer importância .

Apesar de já não ser o rapazinho que teimosamente tu queres que continue a ser, sim, aquele que um certo dia levaste, pela mão, à escola pela primeira vez, e lhe segredaste ao ouvido umas quantas sábias palavras sobre a importância de estudar, lembras-te? Apesar de já não o ser, continuo a admirar-te, como sempre te tenho admirado desde então: pela tua coragem, pela tua persistência, pelo teu sacrifíco ... eu sei lá que mais ... para que nunca me faltasse nada para poder chegar onde tu nunca pudeste chegar.

Apesar dos nossos desentendimentos, continuas a ser a minha MÃE, a melhor que alguma vez poderia ter tido.

Apesar de não te ter ligado muito no dia que é também teu e, apesar de não ser nada dado aos novos hábitos consumistas em que estes dias se transformaram, quero dizer-te que gosto muito de ti e que te dedico este poema que um grande poeta um dia escreveu.



MÃE


No mais fundo de ti
Eu sei que te traí, mãe.

Tudo porque já não sou
O menino adormecido
No fundo dos teus olhos.

Tudo porque ignoras
Que há leitos onde o frio não se demora
E noites rumorosas de águas matinais.

Por isso, às vezes, as palavras que te digo
São duras, mãe,
E o nosso amor é infeliz.

Tudo porque perdi as rosas brancas
Que apertava junto ao coração
No retrato da moldura.

Se soubesses como ainda amo as rosas,
Talvez não enchesses as horas de pesadelos.

Mas tu esqueceste muita coisa;
Esqueceste que as minhas pernas cresceram,
Que todo o meu corpo cresceu,
E até o meu coração
Ficou enorme, mãe!

Olha - queres ouvir-me? -
Às vezes ainda sou o menino
Que adormeceu nos teus olhos;

Ainda aperto contra o coração
Rosas tão brancas
Como as que tens na moldura;

Ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
No meio do laranjal...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
E todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
Dei às aves os meus olhos a beber.

Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo as rosas.

Boa noite. Eu vou com as aves.

(Eugénio de Andrade)

ERA - "Mother": Mother, you're always around, let me tell you you're the only one ...

domingo, 4 de maio de 2008

Aos meus amigos!

Os últimos tempos têm sido de desencontros de velhos amigos, mas também de encontros com outros que, com o tempo e convívio, têm demonstrado o quanto têm sido igualmente importantes para mim.
A vida não tem sido fácil para todos eles, pelo que as suas tristezas acabam por me fazer sentir que afinal de contas não somos assim tão felizes quando temos um amigo em baixo.
Quero deixar aqui uma mensagem de ânimo e fundamentalmente de agradecimento a todos aqueles :
que têm sido meus amigos de verdade;
que nunca me pedem nada em troca por o serem;
que têm feito parte da minha fonte de inspiração;
que têm tido sempre uma palavra de conforto;

e, especialmente para TI "pirilampo", que passas por um período menos bom!

Muito obrigado a todos por estarem sempre aí.

Lembro-vos que a vida é feita de partidas constantes ...


PARTIDA

Ao ver escoar-se a vida humanamente
Em suas águas certas, eu hesito,
E detenho-me às vezes na torrente
Das coisas geniais em que medito.

Afronta-me um desejo de fugir
Ao mistério que é meu e me seduz.
Mas logo me triunfo. A sua luz
Não há muitos que a saibam reflectir.

A minh'alma nostálgica de além,
Cheia de orgulho, ensombra-se entretanto,
Aos meus olhos ungidos sobe um pranto
Que tenho a força de sumir também.

Porque eu reajo. A vida, a natureza,
Que são para o artista? Coisa alguma.
O que devemos é saltar na bruma,
Correr no azul à busca da beleza.

É subir, é subir além dos céus
Que as nossas almas só acumularam,
E prostados rezar, em sonho, ao Deus
Que as nossas mãos de auréola lá douraram.

É partir sem temor contra a montanha
Cingidos de quimera e de irreal,
Brandir a espada fulva e medieval,
A cada hora acastelando em Espanha.

É suscitar cores endoidecidas,
Ser garra imperial enclavinhada,
E numa extrema-unção de alma ampliada,
Viajar outros sentidos, outras vidas.

Ser coluna de fumo, astro perdido,
Forçar os turbilhões aladamente,
Ser ramo de palmeira, água nascente
E arco de oiro e chama distendido ...

Asa longínqua a sacudir loucura,
Nuvem precoce de subtil vapor,
Ânsia revolta de mistério e olor,
Sombra, vertigem, ascenção - Altura!

E eu dou-me todo neste fim de tarde
À espira aérea que me eleva aos cumes.
Doido de esfinges o horizonte arde,
Mas fico ileso entre clarões e gumes!...

Miragem roxa de nimblado encanto -
Sinto os meus olhos a volver-se em espaço!
Alastro, venço chego e ultrapasso;
Sou labirinto, sou licorne e acanto.

Sei a distância, compreendo o Ar;
Sou chuva de oiro e sou espasmo de luz;
Sou taça de cristal lançada ao mar;
Diadema e timbre, elmo real e cruz ...

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O bando das quimeras longe assoma ...
Que apoteose imensa pelos céus!
A cor já não é cor - é som e aroma!
Vêm-me saudades de ter sido Deus ...

Ao triunfo maior, avante pois!
O meu destino é outro - á alto e é raro.
Unicamente custa muito caro:
A tristeza de nunca sermos dois ...

(Mário de Sá Carneiro)

Mike Oldfield - Man in the rain "You're the one who's nearly breaking my heart..."

sábado, 26 de abril de 2008

A consciência ecológica através da música!

Pela primeira vez em Portugal os seguidores da Jarremania, podem ver actuar e ouvir ao vivo as músicas que há mais de 30 anos tentavam despertar as consciências para os problemas ecológicos da Terra que entretanto começavam a fazer-se sentir.

«We must not kill the planet, we would not know where to bury it...» foi o pensamento que Jean Michel Jarre traduziu para a música e que deu origem a OXYGENE, o seu primeiro trabalho, em 1976.


«Os concertos que agora traz a Lisboa, contudo, inserem-se numa digressão mais intimista, em sala fechada, centrados na apresentação do álbum Oxygene e no extenso mar de teclados analógicos, originais, com os quais criou esse disco. Noites nas quais, como descreve, o músico vai "apresentar estes instrumentos e tocar na proximidade das pessoas".Os concertos desta digressão evocam esse disco que o tempo hoje recorda como um clássico mas que teve um início de vida difícil. "Até porque todas as editoras tinham recusado aquela música", recorda o músico. "Estávamos no tempo do disco e do punk. Que música era aquela, perguntavam. Os temas não tinham título... Eram longos e não davam para passar na rádio... Sem single evidente... E tinha o nome de um gás... Até a minha mãe dizia que era bizarro ter dado ao disco o nome químico de um gás... E depois aquela capa, com a Terra... Para os ingleses e os americanos o facto de eu ser francês era outro handicap... Mas depois tudo mudou", lermbra. O álbum foi editado "e as atitudes mudaram". Mais de 30 anos depois, Oxygene fez-se à estrada.»
Ver o resto da notícia em: http://dn.sapo.pt/2008/04/25/artes/jean_michel_jarre_traz_o_oxigenio_a_.html

http://www.youtube.com/watch?v=N4oSXmnkPUU&feature=related

http://www.jeanmicheljarre.com/

sábado, 19 de abril de 2008

Almada

Depois de Lisboa ... um post geográfico sobre Almada: um concelho de acolhimento de população migrante!

Almada é um concelho cada vez mais urbanizado em resultado do processo de crescimento das aglomerações à volta dos dois grandes pólos urbanos do país, Lisboa e Porto, principalmente durante a segunda metade do século XX.

terça-feira, 15 de abril de 2008

De volta depois do longo silêncio!



Em quinze meses muito pode acontecer na vida de qualquer um de nós!

Após muitas mudanças quer ao nível pessoal quer ao nível profissional, e resolvidas que estão algumas peripécias informáticas, (não obstante que 99% dos problemas se situaram entre mim e o teclado do computador), eis que este tijolo da net está de volta para novos registos.

Espero que de agora em diante apareçam com mais regularidade.

Hoje fica apenas a referência ao lançamento, para mais logo, do manual "À Descoberta 11", em Braga. Eu e os meus colegas estamos esperançados que esta seja uma cidade talismã e que, por isso, não fiquemos a ver as adopções por um "canudo"!